
Seria o inferno. Para começar, os dias seriam 48 vezes mais longos. Durante a noite, as temperaturas matariam todo mundo de frio. Ao longo do dia, ninguém suportaria o calor. No litoral, ventos violentíssimos de 200 km/h seriam uma brisa comum.
Algum sinal de vida? Não sobraria quase nada, a não ser bactérias e vermes super-resistentes. Tudo isso mostra como a Terra é dependente dessa bola estéril de minerais que chamamos de Lua. Só para dar uma ideia, antes do satélite começar a orbitar nosso planeta, um dia durava algo entre seis e oito horas.
De lá para cá, a interação com a Lua vem freando a rotação do planeta. Pela mecânica celestial, isso acontece conforme o satélite se afasta, e ele já esteve bem perto.
Há mais de 4 bilhões de anos, estima-se que a Lua ficava a apenas 25 mil quilômetros da Terra e a velocidade de rotação do planeta foi diminuindo aos poucos enquanto ela se afastava. Há cerca de 3 bilhões de anos, a duração do dia já tinha saltado para 18 horas.
Mas não pense que nosso dia de 24 horas vai durar para sempre. A Lua continua se distanciando, agora num ritmo mais rápido do que antes, a uma taxa de 3,8 centímetros por ano. E quando se afastar o suficiente, a vida na Terra será como você leu no início desse texto.
Mas não se preocupe: primeiro, esse eterno fim dos tempos vai demorar pelo menos uns 4 bilhões de anos para acontecer. Segundo, esse cenário caótico provavelmente não vai ter testemunhas, pois em cerca de 1 bilhão de anos, o Sol vai estar 10% mais quente e isso já será suficiente para fritar qualquer forma de vida por aqui. Para acontecer o que você verá a seguir, só se a Lua se desgarrasse de uma vez só, do dia para a noite.
Apocalipse Lunar
Hoje, a Lua está a 384 mil quilômetros da Terra. A essa distância, o satélite exerce grande influência na duração do dia terrestre, com suas 24 horas, além de atuar no sobe e desce das marés oceânicas.
Em um longo espaço de tempo, porém, essa situação vai mudar, a Lua está se afastando de nós cerca de 3,8 centímetros por ano e daqui a 4,6 bilhões de anos, quando nosso satélite estiver a cerca de 560 mil quilômetros, a Terra vai ficar inabitável.
O principal efeito do afastamento lunar é que a rotação do planeta ficará mais lenta, com isso, os dias passarão a durar 1.152 horas, bagunçando o clima do planeta e impedindo a vida.
Chuva no Litoral
A temperatura dos polos não seria afetada pelos dias e noites mais longos,— tais períodos vão continuar durando seis meses nesses lugares, como acontece hoje.
A diferença é que a temperatura nas áreas tropicais aumentaria a uma taxa que é impossível prever hoje.
O certo é que os choques das massas de ar frio com as extremamente quentes criariam tempestades capazes de deixar debaixo d’’água cidades litorâneas como o Rio de Janeiro ou Nova York.
Deserto no Interior
Se a rotação diminui, os ventos no sentido leste-oeste, que geram boa parte das chuvas no Brasil, perdem intensidade, pois é o giro da Terra que dá força para eles.
Como os ventos norte-sul passariam a predominar, as tempestades que começam com a evaporação da água do mar teriam dificuldade para entrar nos continentes. Com isso, regiões interioranas como o Centro-Oeste brasileiro ficariam muito mais secas.
Temperatura Misteriosa
Os cientistas têm duas hipóteses sobre como seria o clima durante a noite de 576 horas.
A primeira é que a parte do planeta que ficar no escuro experimentará temperaturas polares, em torno de -30º centígrados.
A segunda é que a evaporação na parte iluminada poderia criar nuvens monstruosas de até 100 quilômetros de altura. Elas segurariam o calor do Sol, esquentando a parte escura por efeito estufa. É exatamente o que acontece em Vênus, onde a noite dura 2.916 horas e a temperatura gira na casa dos 400º centígrados.
Vidas em Perigo
Com calor ou frio, chuva ou seca, a vida estaria praticamente extinta.
Nenhum vegetal ou alga, por exemplo, aguentaria 576 horas sem luz solar. Só isso já destruiria qualquer cadeia alimentar.
Os únicos seres que certamente aguentariam seriam bactérias e vermes que já vivem em condições extremas, como no fundo dos oceanos, sob uma pressão mil vezes maior que a da superfície e sem nunca terem visto o Sol. O mundo seria só deles.